Fair Play FinanceiroFoto: Junior Souza/CBF

CBF publica regulamento e lança guia para explicar o novo Fair-Play Financeiro do futebol brasileiro

Sistema entra em vigor já em 2026 e muda forma como clubes gastam, contratam, se endividam e prestam contas

A CBF deu o passo mais importante em décadas para reorganizar a saúde financeira do futebol brasileiro. A entidade publicou o Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF) e lançou um guia explicativo, escrito em linguagem simples, para que dirigentes, torcedores e profissionais entendam como funcionará o chamado Fair-Play Financeiro do Brasil.

O modelo começa a valer já em 1º de janeiro de 2026, com regras graduais para adaptação dos clubes das Séries A, B e, futuramente, C.


O que muda para os clubes a partir de 2026?

1. Contas precisam estar em dia

A regra principal é simples:
👉 Clube que não pagar o que deve não poderá registrar jogadores.

A cada ano haverá três verificações obrigatórias:

  • 31 de março – comprovação de que não há atrasos até fevereiro

  • 31 de julho – comprovação de que não há atrasos até junho

  • 30 de novembro – comprovação de que não há atrasos até outubro

Os clubes devem estar sem dívidas vencidas:

  • com outros clubes (transferências, bônus, solidariedade);

  • com jogadores e comissão técnica (salários, direitos de imagem, gratificações);

  • com FGTS, INSS e impostos federais;

  • com a própria CBF (multas e taxas).

Se houver denúncia e a dívida for real, o clube fica travado no sistema e não consegue registrar novos atletas até pagar.


2. Gastar mais do que arrecada terá limite

O SSF passa a analisar se o clube vive dentro do próprio orçamento.
Se tiver prejuízo superior ao limite, terá que provar que foi coberto com aporte do dono/investidor, e não com empréstimos.

Há tolerâncias para flutuações naturais, mas a regra é clara:
👉 Gasto descontrolado vira punição.


3. Limite de gastos com elenco

A partir do novo sistema de Fair-Play Financeiro, salários, direitos de imagem, comissões, amortização de compras e prêmios entram em um cálculo que compara gasto x receita.

Esse limite será aplicado de forma gradual:

  • 2026: teto de 90%

  • 2027: 80% para Série A e B

  • 2028 em diante: 70% para Série A e 80% para Série B

Ou seja:
👉 O clube não poderá gastar com elenco mais do que 70% ou 80% da sua capacidade real de arrecadação.


4. Endividamento terá teto máximo

A partir de 2029, a dívida de curto prazo poderá ser, no máximo, 45% da receita anual.
Antes disso, há adaptação:

  • 2026: limite de 70%

  • 2027: 60%

  • 2028: 50%

  • 2029: 45% (regra definitiva)

A regra vale para dívidas exigíveis em até 12 meses (salários atrasados, impostos, financiamentos, parcelamentos vencendo etc.).


5. Clubes terão que publicar balanços e enviar documentação auditada

Todo ano, até 30 de abril, os clubes devem enviar e publicar:

  • Balanço patrimonial

  • Demonstração de resultado

  • Fluxo de caixa

  • Notas explicativas

  • Parecer de auditoria independente

Sem isso, o clube já começa irregular.


6. Orçamento realista e pré-aprovado

Até 15 de dezembro, cada clube precisa enviar o orçamento da temporada seguinte, com previsão realista de receitas, despesas, folha salarial e investimentos.

Se o planejamento for “irreal”, a Agência pode solicitar correções.


Quem fiscaliza tudo isso?

A fiscalização não será feita pela CBF, e sim pela ANRESF, nova agência autônoma criada para analisar contas, aplicar sanções e julgar clubes.

👉 Dirigentes ou conselheiros recentemente ligados a clubes não podem fazer parte da agência, evitando conflitos de interesse.


Penalidades: o que acontece com quem descumprir?

O SSF prevê punições progressivas, dependendo da gravidade da infração:

Penalidades leves

  • Advertência

  • Multas financeiras

Penalidades que afetam o futebol

  • Retenção de receitas

  • Proibição de registrar atletas

  • Limitação de gastos nas janelas

  • Obrigação de vender jogadores para contratar

Penalidades graves

  • Dedução de pontos

  • Proibição de disputar competições

  • Rebaixamento

  • Exclusão

  • Punição individual a dirigentes (multas, suspensão e até banimento)

👉 Informações falsas são tratadas como infração gravíssima e podem levar à punição máxima.


E os clubes da Série C?

Eles terão um modelo simplificado de Fair-Play Financeiro, começando apenas em 2027.
Precisarão:

  • provar solvência;

  • publicar balanços;

  • entregar documentos no prazo;

  • não atrasar salários ou transferências.

By André Isac

André Isac é jornalista esportivo com mais de 30 anos de experiência em TV, rádio e internet. Especializado em futebol goiano e cobertura nacional, é comentarista do PUC TV Esportes e do Brasil Esportes, além de editor do portal Goianão Esportes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *